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quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

CRÔNICA: A INFAME ARTE DO PUXA-SAQUISMO

Rangel Alves da Costa*


Os falsos elogios alimentam as vaidades; as vaidades cegam as realidades; e de ilusão em ilusão tudo se transforma em mera aparência. E o que é apenas aparente muito de podre esconde nas suas entranhas. Eis o contexto que envolve o puxa-saquismo, algo assim como elevar às alturas aquilo que sequer se sustenta no chão.
E quanta força e quanto sacrifício deve ter um bajulador ou adulador para vender como preciosidade o imprestável. Mas não se imagine, contudo, que os servis estão apenas na ralé da sociedade ou naqueles que fazem da bajulação um meio de vida. Governantes adulam governantes, poderosos bajulam poderosos, autoridades lambem as botas de autoridades. Tudo depende da hierarquia, de quem está mais abaixo e precisa de quem está mais acima.
E são tantos os bajuladores que se espalham por aí que, à primeira vista, torna-se até difícil apontá-los perante características específicas. Agem como pessoas comuns, e até parecem comuns; comportam-se como pessoas normais, e até são normais em muitos aspectos. Muitos são irreconhecíveis, enquanto outros fazem questão de serem vistos como os guardiães dos deuses apodrecidos.
Mas são todos indivíduos perigosíssimos, com um desvio comportamental que há muito desafia a ciência, mas que muitos chamam de servilismo. Ou a ação de bajular ou de servir aos desejos de outrem por vontade própria. Mas outras vezes até como meio de sobrevivência. Verdade é que se alguns satisfazem seus egos doentios bajulando o poder, outros fazem disso uma obrigação, eis que dependem da migalha jogada pelo endeusado. 
Conceitualmente, o puxa-saco é aquele que vive para agradar a outrem através de falsos elogios ou propagando qualidades inexistentes; é o indivíduo adulador, “baba ovo”, que “mata e morre” por um político com mandato - e até sem cargo eletivo -, pelo seu superior; é aquela pessoa que vive elogiando o seu idolatrado sob qualquer circunstância, ainda que esse o humilhe ou trate com desprezo. Sabendo que a pessoa se mostra vulnerável a elogios, eis que o puxa-saco inteligente não perde tempo em cantá-la em verso e prosa.
É bastante característico o puxa-saco ser um indivíduo extremamente mentiroso. Cria uma imagem tão irreal de quem bajula que de repente não sabe mais onde termina a verdade e até onde vai a enganação. Contextualiza uma falsa noção sobre as coisas que o distancia da compreensão da realidade. Porém, distingue imediatamente e com perfeição se ouve pelas ruas ou principalmente pelo rádio alguém falando ou ao menos tencionando falar mal daquele que adula. Nesse momento, ataca a crise de bajulice e não sossega enquanto não age com intransigente defesa.
São muitos os meios utilizados pelo bajulador para expressar seu puxa-saquismo. Além da verbalização, o rádio acaba se tornando um dos instrumentos mais eficazes. Contudo, nenhum meio de comunicação está imune ao puxa-saquismo. Televisões, rádios e jornais de vez em quando são acusados de propagar além da conta a imagem positiva de determinadas pessoas, mas também de fazer o inverso. E o que se vê é uma mídia tantas vezes engajada em partidarismos.
O puxa-saquismo, contudo, não é contagioso, mesmo que os portadores dessa anomalia moral tudo façam para contaminar os demais. Os seus agentes são geralmente encontrados nos escritórios de autoridades e nas antessalas de políticos; são sempre vistos sentados nas assembleias e câmaras, nas prefeituras e ao redor das lideranças políticas. Ficam noites sem dormir, verdadeiramente contagiados, se recebem um elogio pela infame prática.
Como observado, o puxa-saquismo pode ser infinitamente caracterizado, possui inúmeras subespécies e está enraizado por todos os lugares e setores. Contudo, o que realmente mais impressiona é a característica mutável que sempre está presente na maioria dos aduladores. E os exemplos são muitos. Basta que o resultado de uma eleição aponte os vencedores para que ocorra uma debandada de bajuladores saindo de um lado e indo pro outro, passando a elogiar apaixonadamente aquele que ontem não valia nada. Isto é mais comum do que se imagina e tem a duração do próprio mandato.
Por fim, tem-se que o puxa-saquismo acaba sendo de suma importância para determinados governantes e políticos. Todas as vezes que se veem desacreditados, cientes de que as pessoas não mais acreditam nas suas palavras, eis que recorrem aos seus bajuladores. Então os porta-vozes do indefensável, da imoralidade e da improbidade, logo começam a jogar a culpa nos adversários, de dizer que a honestidade está sendo perseguida pela inverdade.
O pior é que o bajulado se reconhece imprestável e sabe muito bem que não é flor que se cheire. Mas que fragrância delicada e preciosa perante o bajulador.


Poeta e cronista
blograngel-sertão.blogspot.com

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Aprendi que não posso exigir o amor de ninguém...
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